Domingo, 19 Mai 2024

O trigésimo

O trigésimo

Na verdade, o filme em questão vai e vem em flashbacks não-sincronizados. 

'Uma Lição de Amor' (1954, na íntegra no youtube) é o 30º filme de Ingmar Bergman que assisti. É uma de suas raras (talvez única) comédias românticas, água-com-açúcar. Como estamos falando do diretor sueco, esse melado vem temperado com suaves progressos de sarcasmo, onde o script, também escrito por ele, dá o tom de que 'algo ali não está normal'.

Na trama, David (Gunnar Björnstrand - é quem mais fez filmes de Bergman: 23!) e Marianne (Eva Dahalbeck) estão prestes a se divorciar e discutem a relação por meio das lembranças a dois. Na verdade, o filme vai e vem em flashbacks não-sincronizados.

Ele, ginecologista, tem amante 20 anos mais nova. Marianne resolveu reatar um caso com namoradinho da adolescência, que abandonou exatamente no dia do casamento para se unir a David. Numa viagem a Copenhagen, o médico pega o mesmo trem que ela. Tudo parece coincidência, mas não.

Neste tempo juntos, refletem sobre o que passou. Quem sabe a reconciliação desponta no horizonte? Na fita, os tradicionais instantes de tensão e filosofia, onde o espectador parece estar ao lado dos envolvidos e pronto a lhes aconselhar, dão lugar às sequências lúdicas (Cupido no desfecho e abertura com bonecos dançarinos), de humor, simpatia, principalmente com o ator Äke Grönberg (Carl, aquele ex da moça).

As cenas da desistência, aliás, são hilárias. Bergman, que usaria o nome idêntico - Marianne - na protagonista de 'Cenas de um Casamento' (tema da coluna há duas semanas), tinha fixação pela culpa e o amor rebaixado, vassalo. Em 'Uma Lição de Amor' usa o personagem masculino como figura central, diferente da maioria de seus trabalhos.

Eva, com olhar destemido de rainha que empresta à heroína, imprime vigor ao longa e tem química boa com o ator. Outro dado interessante é a presença de Harriet Andersson na pele de Nix, a filha de 15 anos que aspira 'ser menino', tema até então bastante ousado à época. A belíssima atriz (Ingmar Bergman nada tinha de bobo...), que iniciou a carreira com o cineasta um ano antes, no lascivo 'Monika e o Desejo', completou 90 anos em fevereiro. Duração: 96 minutos. Cotação: bom. 

 

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