Os grandes artistas de elencos populares, diretores famosos, nem sempre são os que elevam o nome de uma cidade do interior a se destacar nos cenários maiores. É também o trabalho de heróis amadores que vão em frente com uma ideia na cabeça e um sonho no coração. Esses abnegados enfrentam dificuldades imensas na luta ferrenha para mostrar aos centros urbanos em crescimento intelectual a importância de entender a arte das artes: o teatro. É uma ideia fixa; é um chamamento, é uma sina.
Jacareí não é diferente, como comprova um batalhador que tenta há dois anos sacudir as pessoas das plateias ao explicar com arte a realidade que vivemos. Lucas Carty é o jovem diretor de teatro que desponta com seu trabalho e seu grupo de atores a gritar para indiferentes que o mundo se repete, nada há de novo sob o sol e temos de pagar - muitas vezes caro - se quisermos aprender sobrevivência. Mas, existe mesmo quem queira aprender?
Carty dirige o grupo teatral 'Abolion', nome inspirado no personagem de uma de suas peças. São cerca de dez os integrantes que neste sábado, 30, apresentam 'Os sete pecados, de Dante' (20h no Espaço Carlos Gudes, no Jardim das Indústrias - R$ 10), um tema tão antigo quanto os primeiros humanos e tão presente quanto a corrupção política. "É uma peça forte e impactante", previne o diretor, como forte e impactante é a realidade da vida.
Essa apresentação chega pela sétima temporada ao palco cheia de simbolismos e verdades, pois pecados necessitam ainda de símbolos para serem reconhecidos.
Como missão, Carty pretende resgatar o que Jacareí foi em produção teatral de grupos novos quando nem tinha o teatro que tem, quando teatro era paixão coletiva com mais de dez grupos atuando e muita coisa boa sendo apresentada. Mostrar que, em tempos de polo automobilístico, parque da cidade, de educa+ e respeita menos e teatrão da grife Ohtake, ainda fala alto o teatro da manga da camisa arregaçada em que diretor e atores são figurinistas, carpinteiros, cenaristas, sonoplastas, bilheteiros. Para manter grupo assim é preciso ser mesmo sonhador; ser filho brilhante.